Restos de Colecção: Cine-Teatro Capitólio

7 de junho de 2011

Cine-Teatro Capitólio

O Cine-Teatro “Capitólio" inaugurado em 10 de Julho de 1931, é um edifício classificado, de importância arquitectónica internacional, e está localizado no “Parque Mayer”, um antigo recinto de diversões de Lisboa inaugurado em 1922. O arquitecto Luis Cristino da Silva (1896-1976) projectou o Capitólio entre 1925-1929, e o jovem engenheiro José Belard da Fonseca foi o autor da inovadora estrutura de betão armado.

Projecto do arquitecto Luís Cristino da Silva

Em construção

 

                      Entrada do Cine-Teatro Capitólio                                                   Lateral do edifício

  

                                                    Bilheteira do Capitólio na entrada do “Parque Mayer

1932

 

Foi traçado por Luís Cristino da Silva, um dos arquitectos mais proeminentes do Séc. XX português e é considerado por especialistas como o introdutor do modernismo em Portugal. Inaugurado oficialmente em 10 de Julho de 1931, com uma série de inovações  que o distinguiram das demais construções, como a introdução de uma escada rolante e de uma esplanada no terraço a 11 metros de altura. Foi equipado com um dos melhores sistemas de som do mundo da marca alemã Bauer.Tinha-se iniciado uma nova era na arquitectura.

Maqueta do projecto inicial

Desse período fazem parte também os edifícios do "Diário de Notícias" e do antigo "Victoria Hotel", ambos na Av. da Liberdade, o edifício da "Standard Eléctrica" na Av. da Índia, a "Estação de Sul e Sueste", o edifício do cinema "Cinearte" em Santos, etc. De todos, o “Capitólio” é dos mais representativos do modernismo e de linguagem mais coerente.

A sala era imensamente grande, podendo acomodar 1391 espectadores, número que esmagava qualquer lotação de outro cinema existente naquela altura.

                                      Entrada                                                                           Sala de Cinema e Teatro

 

 

No palco na esplanada do terraço podia-se assistir a espectáculos de variedades, com actores estrangeiros, estreando todas as semanas, novos espectáculos, e tambem ouvir música por uma orquestra privativa. “Capitólio Jazz”. Tudo complementado por um “esmerado serviço de bar”…

Esplanada no Terraço do Capitólio, com palco para teatro, variedades e música

Cinema Capitólio.5 Cinema Capitólio.6

No dia da inauguração ao público, 11 de Julho de 1931, a cantora e bailarina espanhola Rosarillo de Triana actuou neste palco, alem do ilusionista Espinosa e o corpo de bailarinas “Hermanas Burgos”. Na sala de cinema neste dia estreou-se o filme “Corações no Exílio” com Dolores Costelo. Nos dias de mau tempo o terraço era encerrado e na sala de cinema passava a decorrer espectáculos mistos incluindo a 1ª sessão de cinema e a 2ª sessão de variedades e concerto.

                                                           Anúncio da inauguração em 10 de Julho de 1931

                                       

Foram feitas em duas ocasiões obras de remodelação e conservação. Acedia-se ao exterior por amplas portas envidraçadas, que foram entaipadas na primeira remodelação em 1933. Ainda nesse ano foi montado no terraço-esplanada, uma cabine de projecção para sessões ao ar livre.

Publicidade de 1932, ao aparelho sonoro “Bauer” instalado no “Capitólio”

     

Em 1935/36 a sua planta foi novamente alterada sob a supervisão de Cristino da Silva.  Foi acrescentado à sua estrutura primitiva mais um pavimento no balcão, além de frisas e camarotes, todo o palco foi reestruturado tal como a cabine cinematográfica. Ficou então habilitado a receber 1400 espectadores. 

Depois da remodelação de 1935/36

Planta e preçário de 1953

Programa de 1948

Em 1966 o empresário Vasco Morgado promove uma nova remodelação na sala de espectáculos do "Capitólio", com uma nova plateia e um balcão mais extenso, depois de suprimidos os camarotes, tornando numa sala mais ampla, com melhor acústica e em condições de o público poder assistir a espectáculos de qualquer natureza. Toda a direcção do "Capitólio" foi entregue a o conhecido homem de Teatro, Hermes da Cunha Portela. A reabertura desta «nova» sala teve lugar em 25 de Agosto de 1966, com a estreia da comédia inglesa "A Mulher de Roupão", com a actriz Laura Alves como cabeça de cartaz.

Com a entrada em decadência do Parque Mayer, também o “Capitólio” acabaria por perder público e encerrar no dia 23 de Agosto de 1990 com a última exibição do filme porno, hard-core, 1º escalão “Doce Era o Sexo”. Em 1983, já tinha sido declarado imóvel de interesse público, mas nada foi feito desde essa altura para evitar que o abandono e a ruína tomasse conta do edifício. No novo milénio surgiu um projecto de grande envergadura destinado a reconverter o “Parque Mayer” e devolver ao espaço as luzes e público de outrora, mas no projecto estava prevista a demolição do capitólio com vista à construção de novas infra-estruturas.

                                                  1938                                                                                           1945

    

                                             1961                                                                                          1963

 

                                           1950                                                                1955                                      1967

  

Um grupo de cidadãos lutou para que tal não acontecesse e conseguiu que o “Capitólio” fosse inserido no "World Monuments Fund", na lista dos 100 edifícios de interesse histórico mais ameaçados. Esta acção levou a que a Câmara Municipal de Lisboa tomasse a decisão de manter o “Capitólio”, como espaço teatral, e abrisse um concurso internacional para a restauração do mesmo segundo o projecto original do arquitecto Luis Cristino da Silva. Com aprovação da CML em 2 de Setembro de 2009, ao Cine-Teatro “Capitólio" foi dado o nome de “Teatro Raúl Solnado”. Raúl Solnado em 1960 chegou a ser, por pouco tempo,  empresário desta casa de espectáculos.

“Teatro Raúl Solnado” em 2017

 

 

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Picasaweb, Universidade de Coimbra, IÉ-IÉ

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